A Consulta
Primeira Vista




.......Ele estava sentado ao seu lado, todo de preto, com um instrumento que julgava ser musical repousando em seu colo. O local era um consultório médico, onde ela iria apenas marcar uma consulta. Sabia que poderia marcar a consulta pelo telefone, porém precisava sair de casa, já que há muito não fazia isso. Como sempre, escolhera um vestidinho de cores neutras e sapatilhas de boneca. Assim que chegou ao consultório, o notou. Tinha o rosto abaixado, porém mesmo por traz do semblante um pouco oculto, notava-se os traços harmoniosos. Ele não era lindo. Contudo, seu rosto era algo melhor do que ser lindo: era interessante. Interessante, pois tinha partes irregulares, como os lábios excessivamente carnudos e grandes em relação ao fino nariz. Mas essa irregularidade combinada entre si, dava um calibre, um equilíbrio perfeito. Era um rosto que tinha muito o que observar. Ela lutava para conseguir discretamente um pequeno vislumbre de seus olhos, para ver de que cor era, para tentar enxergar por trás dele. Corou pelo pensamento. Estava mesmo tentando ver a alma de um estranho pelos olhos? Tudo bem. Acreditava ser possível desvendar muitos mistérios através de um longo e profundo contato visual. Entretanto era de se assustar que quisesse fazer isso com uma pessoa que nunca vira na vida. Por que ele havia prendido sua atenção? Era estranho. Como se houvesse algum tipo de magnetismo. Sentia a boca queimar, queria perguntar seu nome. Mordeu a língua e tentou parar de olhá-lo, antes que ele notasse os olhares intensos sobre si. Tarde demais. Ele havia notado e virou o rosto para encará-la. Sentiu as bochechas pegarem fogo, imaginando como deveria estar parecendo uma boba completamente vermelha, flagrada por olhar um homem que nunca havia visto. Ela desviou o olhar e ele deu uma pequena risada, muito baixa. Assim que teve uma pequena amostra do que era seus olhos, ela se acalmou. Mostrava como ele era, sua transparência. Seu olhar era sua alma. Perdeu o medo e olhou para ele mais uma vez. Ele a encarou novamente. E assim ficaram por um bom tempo, na troca intensa de olhares e pequenos sorrisos. Até que a ruiva do balcão se levantou e gritou:
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– Próximo!
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Ela se levantou, tentando dar passos graciosos para impressioná-lo. Mesmo sem precisar, pois a sua beleza e simpatia era bem notada para os que estavam próximo.

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Ele é do tipo observador, achou graça naquela jovem garota e ficou curioso em saber que tipo de pessoa ela seria. A graça em sua beleza era aquele par de fitas rosa que enfeitava seus cabelos. Tinha e jeito meigo e um olhar penetrante, tanto quanto o dele.

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“O que ela tanto observa em mim? Deve ser mais uma daquelas garotas que está curiosa e impressionada com o tamanho do meu cabelo.”
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Ele observa e percebe que ela tentara impressioná-lo. Ele sorri, segurando-se para não dar uma gargalhada. Pois, achou a situação muito engraçada. Contendo-se, continuou a observá-la. Prestou atenção na forma que ela se expressava com a atendente da clínica. Ela era nova, mas tinha um intelecto bem desenvolvido para a idade aparente, conversava com a atendente como uma mulher, mas a sua meiguice ainda era bastante notável.
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Ele tirou a vista e fixou o olhar em um jarro da mesinha de espera, concentrando-se apenas na conversa das duas.

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– Infelizmente não temos horários para este tipo de exame, apenas para o próximo mês. Está tudo lotado
– falou a atendente de maneira clara. Estava em época de festas e feriados, com isso, a clínica entraria em recesso por alguns dias. A garota fez uma cara muito triste.
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– Por favor, me ajuda. Preciso muito fazer esse exame, pois já tenho que estar com ele em mãos para minha próxima consulta que é neste final de semana.
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– Só temos vagas para seu exame depois do dia da consulta. A não ser que você remarque a sua consulta para o próximo mês.

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Em meio à conversa, a garota sente que alguém se aproxima.
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Com licença. Tenho um exame pra fazer, mas vejo que a demora do atendimento vai me atrasar – falou o jovem que antes trocara olhares com a garota.
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– Tudo bem, eu posso esperar – falou a garota com um sorriso sem graça. E se afastou de maneira moderada.
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– Ok! Vejamos aqui... Hummm... – falou a atendente, olhando para o monitor.
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A atendente citou uma série de exames que ele iria fazer e neste momento ele observou a garota, e percebeu que ela se comportou de maneira (com o olhar) diferente quando ouviu.

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– Por acaso, ela citou algum exame que você precisa fazer?
– olhando para a garota falou o jovem.
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– Sim!
– timidamente respondeu a garota.



.......– Então, fazemos assim. Você cancela minha consulta para exames e encaixa a baixinha no meu lugar, pode ser? Outro dia remarco.
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A atendente faz um olhar como se não tivesse entendido o que ele falara, mesmo entendendo.
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A garota fica sem palavras.
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– Agora preciso ir. Tchau, garotas
– falou o jovem com o rosto expressando ânimo e talvez, sarcasmo. Logo em seguida se retira com pressa.
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Ela olhou para aquela figura se afastando com rápidos e largos passos... Por que havia feito aquilo? Por ela? Em sua cabeça, pensava que não poderia ter sido. Por que ele desistiu de fazer os exames que eram importantes?... Lembrava-se dele ter dito: “a demora do atendimento vai me atrasar”. Então, ele teria um compromisso e não poderia atrasar-se, só isso. Desanimou-se ao chegar à conclusão de que fora simplesmente isso, que ele não havia sido gentil e dado seu lugar a ela. Mas seus olhos... Pareciam tão sensíveis, pareciam ver a pequena ponta de urgência na voz da pequena garota. E... Ele havia chamado-a de baixinha? Enrubesceu-se ao se lembrar da voz tão suave e do modo tão tranquilo de quando apelidou-a momentaneamente.
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– Com licença, senhorita. Consegue me ouvir? Pode entrar na sala de exames. Boa sorte!
– Chamou-lhe a recepcionista, tirando-lhe das divagações.
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Andou lentamente pelo corredor e entrou na sala onde lhe fora indicada. Cumprimentou a médica que iria realizar o procedimento médico e fez os exames necessários. Saiu do consultório, ainda atônita, imersa em pensamentos. Queria esquecer o rosto angelical e forte ao mesmo tempo, do homem do consultório. Teve tanta vontade de tocar-lhe os longos cabelos. Saber se eram tão macios quanto pareciam. Enquanto pensava nessas coisas, andava vagamente pela rua. Não gostaria de ir para casa naquele momento, mas também não lhe apetecia ficar zanzando pelos lugares ou fazendo compras.

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(Próximo Capítulo)


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2 comentários:

  1. Lindo, meu querido rani... Ja sabes que ficarei anciosa para ler a continução, beijos da pequena bell

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  2. Bella Estrelar, o segundo capítulo já está pronto. Espero que goste.

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