(Capítulo Anterior)
Cafeteria
O Reencontro

...... Ela foi até uma cafeteria perto de sua casa e entrou na fila para comprar alguma coisa doce. Qualquer coisa. Só precisava que fosse doce. Um vício. Era uma cafeteria bastante movimentada. A fila andava muito devagar e isso vinha afetando a sua paciência. Quando pensou em dar meia volta e deixar a coisa doce para depois, levou um choque.
...... Na mesa mais discreta, no fundo, numa cadeira quase encostada na parede. Ali o viu novamente. Avermelhou-se, virou o rosto. Tentava não olhá-lo para não repetir o que havia feito no consultório. Não resistiu. Tinha que olhar. Ficou a observá-lo... Ele parecia mais radiante. Estava conversando alegremente com um rapaz de idade próxima a dele. Ela Forçou seu rosto a virar para frente novamente e não o olhou mais.
...... Depois de umas três pessoas serem atendidas, ela ainda era a quarta e última da fila. Ficou brincando com a bainha do vestido, cantando mentalmente. Largou o vestido quando sentiu alguém aproximar-se e ficar atrás de si na fila. Olhou automaticamente para a mesa do rapaz e para sua surpresa, viu sua cadeira vazia e apenas o seu amigo sentado, de costas. Olhou para trás desejando mentalmente que não fosse aquele homem do consultório. Seria constrangedor. Preferia não ter olhado, pois assim que se virou, encontrou o lampejar dos olhos já vistos mais cedo. Ela avermelhou-se e ele prendeu o sorriso. Se aproximando muito dela, ele falou em baixo tom:
...... – Como foram os exames, Baixinha? – Ele deu um sorriso de canto.
...... – Eu... Hm... Ainda não sei o resultado. Só sai em vinte e quatro horas. – Ela ficou mais vermelha.
...... – Sei. Você anda me perseguindo? Percebi o quanto me observou no consultório. E agora, seus olhos ainda me parecem bem curiosos. – Ele queria deixá-la constrangida. Achava hilário o seu rosto queimando num rubor tão bonito.
...... – E-e-eu, er, me desculpe – Ela começou a gaguejar –, não é por querer. Eu senti algo...
...... – Caixa livre! – A moça no balcão do meio, exclamou.
...... – Tenho que ir. – A garota deu as costas rapidamente e não concluiu o que começara a falar.
...... O rapaz olhou absorto para a “pequena coisa” que se movia até o balcão. Os passos rápidos, curtos e irregulares. Achou graça. Ficou bastante curioso para saber o que ela iria falar, porém não falou. A garota pediu uns bombons. Pagou, colocou-os na bolsa e deixou dois em sua mão esquerda. Ela virou-se e andou na direção do rapaz. Parou em sua frente, olhando bem fundo em seus olhos, pegou uma de suas mãos e colocou um bombom. Ela sussurrou um “obrigada”, deu-lhe as costas e saiu pela porta. Ele, ainda paralisado com o gesto tão incomum, apenas olhou para o bombom em sua mão e sorriu brevemente.
...... Ele observa ela se deslocar até a saída. Do lado de fora da cafeteria, de forma repentina ela sente algo que talvez quisesse sentir. Ele pega em sua delicada mão e a trás consigo. Sem falar algo ele apenas a trás. Ela o segue, sem qualquer tipo de reação.
...... Juntos, sentam-se à mesa. Seu amigo que lhe acompanhara no café sorri. Por ser seu melhor amigo, apenas no olhar soube do que se tratava aquilo.
...... A garota, muito tímida, não para de dar sorrisos moderados. Sem ter coragem de olhar para qualquer um deles, ela apenas olha nos redores da cafeteria.
...... – Um chocolate quente, por favor. – Acenando para um dos garçons ele se expressa rapidamente e pisca um dos olhos para ela.
...... – Então... – Meio que ironicamente o amigo pergunta –, qual o seu nome?
...... – Eu me chamo... – Ela é interrompida delo rapaz – Lucy! Ela se chama Lucy.
...... Tudo bem que ele não a conhecia. Mas, por que ele falara isso? Ele poderia ficar calado e então... Até saber o nome dela. Seria algum tipo de brincadeira?
...... Após ser servida, ela prova do saboroso chocolate. Qualquer um saberia que ela adora chocolate. Da maneira que ela o toma, até parece que se cair um pouco na mesa ela seria capaz de passar a língua só para não perder se quer uma gota. Ela não bebe com pressa, mas, suas expressões são bastante visíveis, fácil de notar qualquer sentimento e/ou até pensamento. Não precisava nem perguntar se ela gostou.
...... O silêncio tomou conta da mesa, enquanto os três tomavam suas bebidas. Até parecia ser proposital. Para que ninguém precisasse falar algo. O clima ainda era tenso, de certa forma. Esquisito... Incomum. O som produzido pelos batimentos cardíacos poderia ser até notado se ela parasse de arrastar seu pé de forma suave e contínua no chão ou se o jovem parasse de bater com um dos dedos na mesa, como se tivesse seguindo um ritmo musical.
...... Enquanto o rapaz bebe seu café com leite, apenas com o olho direito olha para a garota que, com a boca está... Brincando com o canudo?
...... – Pufffffffff! – Esse é o som que se ouve quando o rapaz que estava com a boca cheia, cospe todo líquido no rosto do seu amigo, que estava em sua frente. Ele cai no riso, sem jeito, pedindo desculpas e limpando o amigo que parecia enraivado com tudo aquilo.
...... A garota tenta segurar seu riso, mas é inevitável. Pois, até mesmo o amigo todo melado, sorri da situação.
...... – Isso é um sinal. Significa que já tenho que ir. – Depois de cumprimentar a jovem com um beijo no rosto, o amigo deixa algumas moedas na mesa e sai.
...... – Juro que não foi de propósito. Até que eu queria ver-te sorrindo desse jeito. É bonito... É engraçado. Ele a deixou mais encabulada ainda.
...... Eles continuaram em silêncio por um tempo, até que ela se lembrou de uma coisa.
...... – Por que disse ao seu amigo que meu nome era Lucy? – Ela se expressou curiosamente.
...... – Por que fica brincando com o canudo? – ele perguntou olhando-a de canto.
...... – Ah, é uma mania que tenho, fico pensando em qualquer coisa e brincando com o... Ei! Fugiu da minha pergunta. – Ela fez beiço.
...... O rapaz, que até agora não tinha olhado diretamente depois do incidente do canudo, olhou para ela e notou seu beiço forçado. Soltou uma gargalhada e as pessoas que estavam em mesas mais próximas olharam, por conta do som. Ela continuava com a careta.
...... – Sabe... Essa arma feminina de fazer biquinho não funciona comigo, mocinha. – Ele riu.
...... – Não vai me responder, né? Ela bufou.
...... – Você é vidente? – Ele usou um leve sarcasmo que a fez sorrir.
...... – Você sempre responde as perguntas com outra pergunta? – Ela sorriu mais ainda e arqueou uma sobrancelha.
...... – Eu não posso? – Ele deu uma discreta risada.
...... Ela apenas o olhou rir, e decidiu que seu riso era... Um tanto mágico. Era contagiante, como se fosse impossível não sorrir enquanto ele demonstrava sua risada. Depois da risada, sobrou o tênue sorriso. Seu sorriso era tranquilo, calmo... Tal como a luz da lua. Deixava seu rastro, ela brilhante, ofuscante. Talvez as melhores palavras para descrevê-lo eram encantador e caloroso.
...... – Terminou? – ele perguntou olhando-a novamente de canto.
...... – Sim... – Ela demorou um pouco para responder.
...... – Então, vamos? – Ele deu um lindo sorriso bem aberto.
...... – Vamos. – Ela ficou um pouco vermelha e sorriu um pouco.
...... Pareciam ser íntimos. Como se eles tivessem se conhecido há anos. Houve uma forma de compatibilidade incomum. Mesmo eles sendo totalmente diferentes, aparentemente. Enquanto ela parecia uma boneca de porcelana, ele não era diferente daqueles músicos de bandas de rock, com roupa preta e aquele cabelo que chegava a chamar a atenção das pessoas em volta, devido ao tamanho. As flores que enfeitavam o vestido da garota eram totalmente diferentes das pequenas caveiras estampadas na camiseta do rapaz. As pulseiras coloridas chegam a deixá-la elegante e ainda mais parecida com uma delicada flor, enquanto o crucifixo prateado no pescoço dele transmite algo meio que obscuro.
.......
Como poderiam ser tão compatíveis?



(Próximo Capítulo)
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5 comentários:

  1. A cada dia que passa, você me surpreende cada vez mais...

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  2. Quando me sinto inspirado demais e a experiência ao escrever aumenta, os trabalhos ficam bem melhores com o tempo. Ainda tenho muito o que aprender. Você verá.

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  3. Que lindo conto! Você usa as palavras maravilhosamente e é um dos poucos escritores "quase anônimos" que ainda utiliza a figura feminina como frágil e delicada. Incrível mesmo!
    Eu também sou escritora de gaveta e posto no meu blog. Se quiser dar uma olhada e dar umas sugestões eu ficaria muito grata ^^.
    Seus poemas são lindos também.
    Desejo muito sucesso pra você.
    Beijos (:

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  4. Olá, Polly!!! ^^
    Muito obrigado pelo elogio. Na verdade, "Encontros" não é um conto só meu. Esse conto foi uma iniciativa de uma "Escritora de Gaveta" que me enviou o começo de uma estória, e inspirado no que li, continuei redigindo. Então, juntos, criamos este conto.
    Na verdade, não é o tipo de coisa que costumo criar (romance), mas... Acontece.
    Obrigado por particiarem (Bellinha e Polly) do blog, comentando.
    Polly, eu dei uma olhada nos blogs, mas não achei o seu (me envia o link).
    Logo postarei o terceiro capítulo.

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  5. Achei!
    O blog dela é http://pudding-head.blogspot.com/
    Para quem gosta de contos e crônicas, é um prato cheio. Polly é mais experiente (como escritora) do que eu ^^

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