Depois de uma longa jornada de trabalho, eu voltava para casa. No terminal central, sentei no banco, bem ao lado de uma senhora. Alguns minutos depois, uma garota se aproxima da senhora.
– A senhora sabe quanto tempo falta para “esse ônibus” passar?
– Falta apenas um minuto – respondeu.
– A senhora sabe onde fica “esse mercado”?
– Sei, mas não sei explicar exatamente como chegar lá.
Eu olhei para elas e a garota olhou para mim.
– Sei onde fica. – Eu disse. – Você pega “esse ônibus” e vai até o terminal do bairro. Lá você tem três opções de ônibus. Pega um desses três e desce na segunda parada.
Pelo jeito que ela me olhou, percebi que nada entendeu. Deu pra saber que ela nunca tinha ido naquele bairro.
– Faz assim... Eu vou pegar “esse ônibus” e quando chegarmos lá, te explico de novo.
Entramos. Ela sentou e eu fiquei de pé. Ela tentava ligar para alguém, mas não conseguia.
Após chegarmos ao terminal do bairro, mostrei a ela onde esperar o ônibus e expliquei onde descer... Ela ainda estava perdida. Logo o ônibus chegou.
– Não se preocupa. Eu vou pegar o mesmo ônibus. – Não era o ônibus que ia para minha casa. Mas, morei próximo do mercado que ela tinha como referência. Deste local, não demoraria muito pra chegar a minha casa, caminhado (15 minutos). Sentei do lado dela, mas não iniciei um assunto.
Expliquei a ela enquanto estávamos no meio do caminho, se caso ela viesse outro dia, como chegar lá com precisão.
Chegamos e ela me agradeceu dizendo que eu poderia ir embora. Eu falei que não iria embora, pois ela tinha o ponto de referência, mas não sabia onde ficava a rua que procurava.
Caminhamos um pouco. Era impossível encontrar a rua sem um mapa. Eu estava com o notebook na mochila e o liguei para ver um mapa. Por sorte, um homem passa na rua e ela pergunta se ele sabia onde ficava a rua. Ele disse que não sabia, mas tinha um GPS na mão e logo descobrimos. O ponto de referência não tinha nada em relação com a rua.
Uma distância de 20 minutos de caminhada. Deu tempo de conversarmos coisas mais íntimas. Ela dizia que era louca de estar lá naquela hora. Eu dizia que não é loucura. É normal. Mas, eu queria saber o que ela fazia em um bairro do outro lado da cidade (em relação a casa dela), que ela nunca foi. Imaginei que ela teria conhecido um garoto na internet e marcaram de se encontrar. Visto que ela não queria tocar no assunto sobre o motivo de estar lá, assim como eu que também não tocava no assunto. Nesses 20 minutos ela viu que eu não era um maníaco estuprador ou um cara querendo uma oportunidade pra conhecer mais uma garota... Então, ela me contou o que ali faria.
– Estou com a receita médica de uma senhora pobre que não tem condições de comprar um remédio que é muito caro e que é de uso controlado. Comprei o remédio e estou levando pra ela.
Aquilo foi um choque para mim. Pois, eu achava que era o único “bonzinho” nessa cidade.
Mesmo tendo a noção de onde seria a rua, não estávamos encontrando-a. Ela pensou em desisti, mas eu a encorajei a não fazer isso.
– De que adianta você desistir agora? Depois de ter andado isso tudo. Não valeria a pena. Seria tudo em vão. Agora que ta tão perto.
Pedimos informações e achamos a rua. A rua mais esquisita que já vi na minha vida. Tínhamos o nome da rua, mas não o número da casa... Após conversarmos com uma moradora da rua, ela indicou onde era e, na última casa da rua era a casa da senhora.
Ela falou que iria dormir por lá e nos despedimos. Ao olhar para trás, vi as duas se abraçarem.
Eu pensei. Quem faria o que eu fiz por ela? Acho que, poucas pessoas. Mas, isso que eu fiz não foi o que perturbava a minha mente, e sim o que ela fez.
Ela, depois de ter ido à aula (faculdade), foi ao trabalho (banco), depois foi até um bairro que nunca tinha ido antes, sem saber que ônibus pegar, que casa procurar, à noite, sozinha... Para procurar alguém que mal conhecia e entregar um remédio de alto valor para um idosa que não tinha condições financeiras.
Quem faz esse tipo de coisa?
Até conhecer essa garota, percebi o quanto eu ajudo as pessoas (ajudo mesmo?). Dar o lugar para um idoso ou uma mulher no ônibus; ajudar uma criança ou um idoso atravessar a rua; dar esmolas a um cego; fazer uma doação ao “Criança Esperança”; ajudar a empurrar um carro que teve problema na rua; devolver uma carteira encontrada. Tudo isso nem chega perto do que aquela garota fez. Ela fez mais que uma boa ação. Fez um sacrifício. Uma “loucura”. Ela não amava a senhora, pois mal a conhecia. Mas, amava quilo que fazia. Quantas são as pessoas que conhecemos que fariam isso? Quantos amigos fariam isso? Quantos cristãos fariam isso? Quantas boas pessoas fariam isso? Eu faria isso?
Peguei o ônibus pra voltar ao terminal do bairro e depois pegar mais um ônibus e ir para casa... A minha pressa me fez pegar o ônibus errado. Peguei um ônibus que me levou de novo para perto da casa da senhora. o.O
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